Morreu no passado sábado, na missão do Sagrado Coração de Jesus de Mambone o leigo da Consolata, Giancarlo Pegoraro.
O Giancarlo era italiano, natural de Castel Goffredo (Mantova) e integrou a primeira experiência de laicado dos Missionários da Consolata em Itália. Chegou à Região de Moçambique em 1999. Foi nesse ano e em Mecanhelas que eu conheci o Giancarlo. Um homem particular, muito amigo, disponível e proactivo em encontrar soluções para quem o procurasse a pedir ajuda. Fiel à missão, era verdadeiramente um coração bom, que recordarei sempre com muita saudade.
Não me faltam histórias vividas do seu trabalho, do seu empenho do seu mergulho de total entrega à vida nas missões. Na velha missão de Mepanhira, num local isolado onde quase tudo faltava, o Giancarlo deu tudo o que sabia para me ajudar na recuperação da missão. Passou por ele a manutenção do velho Land Cruiser; a preparação da base para o novo motor Lister da moagem sem a qual a população não poderia moer o milho; subiu aos andaimes da imponente Igreja de Santa Teresinha para calcular a dimensão das rachas das paredes para reparar; carregou carradas de pedras para reparar o lodaçal que era a estrada de Mecanhelas para Mepanhira na época chuvosa e permitir a circulação; consolidou pontes de madeira que amarrou com varões de ferro para que a ponte não cedesse à passagem dos carros...
Em Mecanhelas e Entre-Lagos recordo as viagens ao Malawi para comprar as peças suplentes para os carros e as moagens, os alicerces das construções (capelas, escolas e postos de saúde) que ele quis fortíssimos. O Giancarlo era assim: Excessivo, perfecionista e exigente. Seguindo a máxima do Fundador dos Missionários da Consolata, á letra. "O bem faz-se bem feito"
Em Nampula dedicou-se ao trabalho de manutenção e construções no seminário dos Missionários da Consolata. Muros, instalações eléctricas mais que perfeitas e tantas obras e tanta disponibilidade e tanta dedicação. Estava sempre disponível também para prestar trabalhos para fora. Que o digam as Irmãs de tantas congregações que se recorriam da sua competência no sector da electricidade.
Em Mambone, a última missão onde trabalhou, foi a salina o seu trabalho e a sua vida. Para o que era preciso estava pronto e se fosse preciso inventava e inventava bem.
Nunca esquecerei o seu coração bom, as suas manias, o seu barrete na cabeça...a sua abertura aos outros.
Um técnico de excelência, era também especialista em informática e comunicações, revelando assim a sua natureza de total disponibilidade ao trabalho pesado e ao trabalho minucioso. Em tudo e sempre um denominador comum: O serviço, o dar-se por inteiro à missão.
No último dia de Janeiro, não desceu para jantar. O Padre Carlos Osório encontrou-o falecido na cama. Parecia em paz. Tinha 54 anos, 15 anos dedicados à missão Moçambique.