A pacata vila de Nipepe, no extremo sudeste do Niassa, teve neste fim-de-semana um movimento pouco habitual. Algumas centenas de peregrinos das diferentes paróquias da Diocese de Lichinga, juntamente com um bom grupo de Missionários/as da Consolata, sacerdotes diocesanos e religiosos/as dirigiram-se no Sábado, para a Paróquia de São João de Brito. O objectivo era: agradecer a Deus o dom da santidade da Irmã Irene Stefani, proclamada beata no dia 23 de Maio, no lugar onde, por sua intercessão, operou o milagre da multiplicação da água e a protecção dada aos catequistas e seus familiares num momento de grave perigo.
As celebrações litúrgicas começaram no Sábado à tarde com a procissão com a imagem de Nossa Senhora da Consolata, do centro da vila até à igreja paroquial. Seguiu-se a Eucaristia e uma vigília de oração.
No Domingo, o número dos fiéis aumentou em grande número, afluindo das comunidades cristãs da paróquia de Nipepe. A Eucaristia, celebrada ao ar livre, na frente da igreja paroquial, foi presidida pelo Bispo de Lichinga, D. Atanásio Amisse Canira, e concelebrada pelo D. Inácio Saúre IMC, Bispo de Tete, e por 30 sacerdotes. Estavam presentes também delegações do governo distrital e provincial, autoridades tradicionais, representantes de outras igrejas e dos muçulmanos.
A celebração começou com a apresentação feita pelo Padre Giuseppe Frizzi, sobre os factos acontecidos e o fenómeno sobrenatural da multiplicação da água: em plena guerra civil, surge do nada, o centro catequético para formação de famílias de catequistas. Enquanto celebravam a Missa, a vila foi atacada. Na igreja refugiaram-se algumas pessoas da aldeia, incluindo muçulmanos. Ficaram sitiados, nos dias 10-13 de Janeiro de 1989. Perante o perigo e suplicando protecção, P. Frizzi, com um grupo de catequistas, celebra o sacrifício tradicional – Makeya- invocando a ajuda da Ir. Irene Stefani, da qual estava lendo uma biografia.
As dezenas de pessoas fechadas na igreja, durante o ataque nada sofreram, apesar das balas e obuses passarem muito próximo dos muros da igreja. Não tinham reserva de água e era o período mais quente do ano. E a água, inesperada e inexplicavelmente, foi suficiente para matar a sede de todos os refugiados que estavam na igreja. Os presentes repetiam mais tarde o testemunho: “por intercessão da Ir. Irene, fomos salvos”. A respeito deste acontecimento foi baseada a investigação diocesana nos anos 2010-2011, ratificada pela Congregação da Causa dos Santos. O decreto com a aprovação do Papa Francisco, foi publicado pela Congregação da Causa dos Santos aos 12 de Junho de 2014. Foi tomado em consideração para a beatificação o milagre atribuído à intercessão da Serva de Deus Irene Stefani.
Na homilia, feita por D. Inácio Saure, o bispo de Tete, destacou a figura da Beata Irene Stefani colocando em destaque as suas qualidades humanas, religiosas e missionárias. No final da celebração foram apresentados os catequistas, ainda vivos, que estavam em formação em Nipepe e que foram vitimas do ataque, muitos deles sequestrados e levados pelos guerrilheiros para a base, e testemunhas do milagre da multiplicação da água e da proteção recebida durante aqueles dias de grande perigo e risco de vida. No grupo estava a jovem Irene, a criança que nasceu dentro da igreja de Nipepe durante o sequestro e foi lavada com a água da pia baptismal. Foi um momento emocionante, em primeiro para eles, pois alguns há muitos anos que não se viam, e para a assembleia que se comoveu com o testemunho. Foi um momento de explosão de alegria e agradecimento, bem expresso com as danças e os cânticos da assembleia.
Antes da bênção final, o Bispo de Lichinga, D. Atanásio Canira, agradeceu o trabalho de evangelização e promoção humana realizado pelos Missionários/as da Consolata no Niassa. Reafirmou que a diocese de Lichinga continua a precisar da sua colaboração no trabalho de consolidação da Igreja local: a planta por vós plantada precisa ainda da vossa ajuda para crescer! Por fim, declarou a igreja de Nipepe como lugar de peregrinação para a celebração da memória litúrgica da Beata Irene Stefani, cuja data é o dia 31 de Outubro.
A Missão de São João de Brito de Nipepe foi fundada pelos Missionários da Consolata no dia 4 de Fevereiro de 1967, com território desmembrado da Missão de São Francisco Xavier de Maiaca. Foi fundador e primeiro superior da Missão de Nipepe o Padre Mário Filippi. Em 1998 os Missionários da Consolata entregaram a paróquia de Nipepe à cura pastoral da Diocese de Lichinga.