O Projeto Missionário Continental do Instituto Missões Consolata está sendo formulado em base à metodologia do seu Fundador, o Bem-aventurado José Allamano. A tarefa é feita por um grupo de 35 missionários reunidos desde o último dia 2, em Assembleia na cidade de Bogotá - Colômbia.
As reflexões giram em torno de opções como, a missão na Amazônia, no mundo indígena, entre os afrodescendentes, missão no contexto urbano, animação missionária e vocacional, formação para a missão ad gentes, economia e comunicação. Inspirações espirituais iluminam os debates.
Na celebração Eucarística desta quinta-feira, dia 6, a reflexão coube ao administrador Geral, padre Rinaldo Cogliati. Após destacar algumas virtudes dos mártires japoneses, Paulo Miki e seus companheiros, memória litúrgica do dia, padre Rinaldo, falou sobre os ensinamentos de Allamano com relação à Eucaristia.
"Allamano era movido pelo desejo de fazer conhecer Jesus ao maior número possível de pessoas, motivado pelas palavras de Paulo: ‘Ai de mim se eu não Evangelizar'", recordou. Para realizar essa missão, "faz-se necessário o fogo do amor de Deus, fogo que nos leva aos povos que esperam o anúncio do Reino de Deus. Somente isso justifica o compromisso com a missão, a abertura ao universal, a solicitação de irmãos de outras etnias e culturas", completou.
As direções dos missionários e das missionárias da Consolata declararam 2014, o Ano do Allamano cuja perspectiva de vida é a universalidade. "Ele pedia para não ficar fechado em suas fronteiras territoriais, olhar somente para as nossas necessidades, mas olhar o mundo em obediência ao mandato de Jesus: ‘Ide por todo o mundo'", observou o administrador. Padre Rinaldo é italiano, natural de Albavilla, mas estudou teologia na Colômbia onde, por 22 anos viveu entre os indígenas paese do Cauca, região oriental do país. É característica do missionário, sair de seu país, mas também de sua cultura e do seu meio religioso para anunciar o Evangelho às periferias do mundo. O padre lembrou ainda que Allamano não saiu da Itália, contudo, "ele intuiu a importância da dimensão missionária para a Igreja e trabalhou muito para mudar a mentalidade fechada, animando a superar os esquemas da pastoral ordinária para sustentar novas iniciativas".
Em seguida, padre Rinaldo sublinhou sete atitudes missionárias indicadas por Allamano para realizar a missão ad gentes.
"Dedicação total: as propostas de Allamano são exigentes, em sintonia com radicalidade do Evangelho. Ele é compreensivo com as debilidades humanas, porém não suporta a mediocridade.
Qualificação: o Fundador pedia que os missionários fossem bem preparados. Repetia sempre: ‘temos de ser todos de primeira qualidade. Para a missão, primeira atividade da Igreja, precisa dar o melhor'. Dizia ainda: ‘melhor poucos, mas bons do que muitos e regulares'.
Primazia do Espírito: o missionário é uma pessoa ativa, que tem porém, como base a busca de Deus. Allamano dizia: ‘primeiros santos e depois missionários'. Para ser missionários, se necessita um algo a mais: um espírito. Ele falava de um espírito de pobreza, de obediência, de sacrifício, de oração, de silêncio, de humildade, de fé, de trabalho, de desapego, espírito de caridade. O espírito é ir ao essencial das coisas.
Unidade de intenções: a missão não é uma atividade individual, mas uma ação da Igreja feita em espírito de comunhão. Trata-se de um espírito de família, espírito de corpo, segredo para se obter bons resultados na missão. No trabalho missionário, a unidade é a condição indispensável e mais importante, sem a qual se corre o risco de trabalhar inutilmente.
Colaboração com os leigos: justamente por que pensa a missão na unidade, Allamano quer que haja uma participação também dos leigos. Sua Obra não teria se realizado se não fosse a colaboração dos leigos.
Estar com as pessoas: os missionários devem levar a Boa Nova de Jesus ao lado dos mais necessitados, dos pobres. Allamano recomenda visitar as pessoas. Ele quer que sejamos o coração da compaixão de Deus que se torna consolação, um programa que está escrito no mesmo nome que levamos: Consolata. Sob o modelo de Maria, que quer o bem da humanidade, a missão vai instaurando o Reino de Deus que é Amor, bondade, misericórdia.
A promoção humana: não é difícil ver a relação entre consolação-libertação-promoção e a Missão. Ao ver o sofrimento do seu povo, Deus escutou o seu grito e enviou Moisés para libertá-los da opressão. A consolação-libertação-Missão de Deus é um presente de Cristo que nos Salva. Temos sido recomendados de levar a diante essa tarefa.
Estes princípios propostos por Allamano, tornam-se uma metodologia missionária e devem ser sempre atualizados", finalizou padre Rinaldo.
Coordenado pelo Conselheiro Geral para a América, padre Salvador Medina, a Assembleia se estende até este sábado, dia 8.
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A metodologia missionária de José Allamano desde o Continente americano
P. Mário de Carli
A programação da Assembleia Continental dos missionários da Consolata, que acontece desde o dia 2, em Bogotá - Colômbia, recebeu na manhã desta quinta, dia 6, dom Francisco Javier Múnera, IMC, bispo do Vicariato Apostólico de São Vicente de Caguán (Caquetá), para refletir sobre a metodologia missionária de José Allamano desde o Continente da América.
Inspirado na parábola do Semeador (Mc 4,1-9), o bispo destacou a importância da Palavra de Deus. "É sempre bom contemplar a tarefa do Semeador, pois ele é paciente e persistente. O semeador respeita a liberdade humana e não discrimina terreno nenhum, semeando-a em todos os lugares", disse dom Francisco e questionou: "Bento XVI afirmou que José Allamano foi um ‘indicador de caminho', mas nós, missionários da Consolata, que terreno somos e o que temos em comum com Allamano?"
Metodologia missionária
Licenciado em missiologia pela Universidade Gregoriana em Roma, Múnera já trabalhou no Quênia, África. De volta à Colômbia, trabalhou na formação e na direção do IMC como vice-superior Regional, quando em 1999, foi nomeado bispo. Na sua exposição, levou a Assembleia a refletir sobre a metodologia missionária de Allamano que, segundo ele, deve contagiar os missionários pela sua santidade e pelo seu espírito. "Refletir sobre as práticas missionárias do IMC no Continente é olhar a pessoa do Allamano que tinha o coração preocupado em todos os sentidos. Em 1904, ele escreve aos missionários que estavam no Quênia, falando-lhes da importância de viver unidos, bem como de cuidar com esmero da horta presente em todos os lugares da missão", recordou. "Conselhos como o de estar atentos aos tempos da semeadura, dos transplantes, de arrancar o inço, de regar, defender a horta contra as pragas e inimigos, de usar os fungicidas e de lutar contra todas as causas que podem destruir as plantas, revela que sabia das coisas do mundo rural", relatou para dizer que Allamano, também "era semeador e cultivador".
Na sequência, dom Francisco indagou: "como aprender a ser semeadores pacientes muito além dos que estão somente preocupados com a colheita?". Para o bispo, a preocupação que Allamano tinha com os cuidados da horta, era para assinalar que os missionários deveriam ter uma metodologia e um estilo de vida, que fosse ao encontro das pessoas e de suas necessidades.
Dom Francisco apontou ainda as linhas gerais do ensinamento de José Allamano, como ser perseverante na vocação, dar importância à vida interior, o silêncio, o estudo, a formação permanente, o estudo das línguas e das culturas locais, a revisão permanente de vida, a elaboração do diário e a austeridade no uso dos bens e do dinheiro.
A caridade pastoral, que foi marcante na vida de Allamano, era visível na boa relação que os missionários deviam ter para com as pessoas. "Esta deveria se concretizar na mansidão, longanimidade e paciência, atitudes fundamentais para que os missionários exerçam bem a sua missão", argumentou.
Características missionárias
Para Allamano os missionários deveriam caminhar com os povos em seus costumes antes de fazê-los cristãos. "Antes de anunciar uma religião e as promessas na outra vida, que se preocupem para torná-los mais felizes; antes de pensar que sabem tudo, desenvolvam uma relação de amor, de afeto, de apreço e de amizade. A mensagem do Evangelho chega através do coração pela perseverança e pela concórdia mútua entre os missionários".
Nesta perspectiva, segundo dom Francisco, é fundamental que os missionários da Consolata olhem o seu passado como fonte de renovação. Este olhar retrospectivo é como uma fonte iluminadora para os dias atuais. "Os missionários procuraram vencer os desafios da missão não se deixando levar pela pressa de fazê-los cristãos, mas antes homens; não se preocupavam em batizá-los imediatamente, mas esperavam com paciência até chegar à conversão; não foram levados pelo imediatismo, mas buscaram ações possíveis juntos; não se levaram pelas estatísticas, mas por qualificar os multiplicadores da evangelização; não deram ouvidos a todas as críticas, mas avançaram com determinação; não fizeram ações isoladas, mas trabalharam na unidade de intentos; não se deixaram levar pelo desanimo dos poucos frutos, mas foram pacientes e perseverantes; não tiveram saudade de onde tinham partido, mas se apegaram à nova pátria; não se impuseram a si mesmos, mas com humildade, respeitaram os valores dos povos", sublinhou o bispo.
Desafios
A título de conclusão, dom Francisco deixou alguns desafios e implicações missionárias para que a metodologia de José Allamano alcance seus objetivos. "Que a Evangelização seja de conversão e transformação de todo um povo e não simplesmente de indivíduos isolados. Que a evangelização siga seus processos e mudanças naturais, pois exige tempo e paciência. É preciso continuar a semear, antes de se preocupar por recolher os frutos".
Allamano queria e desejava estar sempre informado daquilo que acontecia na missão. "Seu desejo era o de ajudar, esclarecer e formar melhor os seus missionários. Alegrava-se com o crescimento deles e com a adesão das pessoas à mensagem do Evangelho", finalizou.
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O encontro de Nossa Senhora da Consolata com Nossa Senhora Guadalupe
Mário de Carli
A Assembleia Continental dos missionários da Consolata, que iniciou no último dia 2, encerrou seus trabalhos na manhã deste sábado, dia 8. Os participantes do encontro em Bogotá - Colômbia, colocaram nas mãos dos superiores um documento contendo opções missionárias e propostas de ação, que farão parte do Projeto Continental de vida e missão. O resultado foi alcançado num esforço coletivo, sempre iluminado por reflexões sobre a espiritualidade e metodologia do Fundador da congregação, o Bem-Aventurado José Allamano.
A quarta e última reflexão, na manhã da sexta-feira, 7, esteve a cargo do padre Ézio Guadalupe Roattino, missionário da Consolata italiano ordenado padre em 1964. Quando chegou à Colômbia, 25 anos atrás trazia em seu nome, Maria. Ao conhecer o acontecimento guadalupano, substituiu o nome de Maria pelo de Guadalupe. De lá para cá, sempre manteve um diálogo entre as duas devoções.
Cabeça encurvada, olhar firme e voz rouca, tendo em mãos alguns apontamentos, Ézio Roattino falou sobre um tema pouco comum: "o encontro da Consolata com a Guadalupe". Antes de iniciar explicou que, o arranjo de rosas sobre a mesa era símbolo da Guadalupana. Publicamos, a seguir, um resumo da sua exposição.
"A Palavra se fez carne e habitou entre nós e vimos sua glória na aparição da Virgem de Guadalupe no Tepeyac (lugar onde Ela apareceu), vimos a glória dela que é a Mãe do Ipalnemohuani (Aquele por quem se vive). Aqui se apresentam as experiências de fé tanto de Nossa Senhora de Guadalupe quanto de Nossa Senhora Consolata. Aparecem as afinidades, as diferenças e as complementariedades entre duas dimensões de espiritualidade. No ano de 1511, a "descoberta" tornou-se uma ‘conquista' e uma ‘invasão destruidora'. Hernán Crotéz, com seu exército e alguns grupos de indígenas da costa, entrou na capital dos aztecas, Tenochtitlán e Tlatelolco, e acabou com a vida de 240.000 guerreiros indígenas. O cenário do Império Azteca foi de grande sofrimento e desolação.
A aparição de Guadalupe
Foi exatamente neste lugar que, em de 1531, Nossa Senhora Guadalupe apareceu a Juan Diego como a sempre Virgem, a Mãe do Deus da Grande Verdade, Téotl (Deus). Juan devia levar a mensagem ao bispo, Juan de Zumarraga para erguer uma ermida no lugar do templo destruído pelos espanhóis. O bispo não o recebeu. Juan regressou para dizer à Virgem que não queria mais continuar com esta tarefa. Ela lhe diz: "Eu sou a tua Mãe misericordiosa, a Senhora do Céu, a mãe de todas as nações desta terra, daqueles que me amam, que falam de mim, que me buscam e confiam. Ali, nesta ermida, eu hei de ouvir seus lamentos e curar todas as suas misérias, penas e dores". Chama carinhosamente seu mensageiro de ‘Digno Juan Diego' e lhe ordena: "é de absoluta necessidade que sejas tu mesmo aquele que vá e fale disto tudo, e que precisamente com tua meditação e ajuda se faça realidade o meu desejo. Entretanto, enquanto Juan regressa à sua casa para descansar e pensar naquilo que a Virgem lhe havia dito, seu tio adoece gravemente. Em busca de médico, no caminho, a Virgem lhe aparece e diz que seu tio está curado. "Qual é o sinal que me dás?" - perguntou Juan. A Virgem lhe diz para ir à montanha e colher rosas. Ele foi e colheu um ramo de rosas, no tempo de inverno. Depois, vai levá-las ao bispo.
As rosas de Tepeyac
Quando o bispo viu as rosas e a preciosa Imagem de Guadalupe pintada na tilma (capa) de Juan Diego, suplicou que o perdoasse por não ter acreditado na vontade da Senhora do Céu. Era o dia 12 de dezembro de 1531. A partir deste local, começou uma nova história, outro caminho. Tepeyac, monte onde apareceu a Virgem de Guadalupe, não será um lugar geográfico e a história do Plano de Deus para a América Abbya Ayala? Significou um novo olhar sobre estes povos: é lugar da manifestação de Deus que liberta, pois os indígenas não são grupos de sobreviventes de um extermínio, são nações que lutam pela sua identidade e liberdade. O rosto e a identidade destes povos foram defendidos por vários bispos, tais como, Juan de Zumarraga, Bartolomeu de Las Casas e recentemente, Leonidas Proaño. Todos estes missionários e bispos foram profetas defendendo a vida e a dignidade dos povos da América.
Os missionários da Consolata na Colômbia
O acontecimento guadalupano, de 12 de dezembro de 1531, coincide com a data da chegada dos missionários da Consolata na Colômbia, em 1947. José Allamano alimentava a espiritualidade da Consolata através da Palavra de Deus, sobretudo do livro de Isaías, o livro da consolação. Pode-se fazer um paralelo entre a Virgem de Guadalupe, que tinha Juan Diego como seu mensageiro e Nossa Senhora da Consolata cujo mensageiro era Allamano. Juan Diego tinha um tio, Bernardino que foi curado pela intercessão da Virgem. Os missionários e missionárias da Consolata têm um tio, São José Cafasso, que dedicou sua vida aos últimos da cidade de Turim, aos encarcerados e aos condenados à morte. Por ocasião da beatificação do seu tio, São José Cafasso, o padre Allamano escreveu uma carta onde expressava emoção e profunda gratidão a Deus. Apontava-o como nosso protetor e exemplo de santidade.
Conclusão
A devoção à Virgem das Dores e das Mercedes nasce devido à escravidão que os Mouros exerciam na Espanha. Nasce também a devoção a Nossa Senhora Consolata vivida nas ações simples das mães que consolam seus filhos carregando suas dores e sofrimentos. O amor do padre José Allamano pela Igreja levou o cardeal Gastaldi a nomeá-lo reitor do Santuário da Consolata onde trabalhou por 46 anos. Allamano abriu um diálogo intercultural entre a Consolata, a Dolorosa que ampara e carrega as dores dos que sofrem e a Virgem das Mercedes, invocando-a para libertar os escravos. Que esta experiência se expanda a todos!
No final, a Assembleia fez uma homenagem a Nossa Senhora. Como gesto simbólico, padre Ézio Guadalupe tomou o arranjo de rosas que estava sobre a mesa e convidou os presentes a repassarem as flores de mão em mão. Enquanto isso, todos catavam em três idiomas: "Ave, ave, ave Maria!... Ewcha, ewacha, ewacha Mama Mlya..."